Um novo movimento começou a ganhar força no mercado econômico global, trazendo um alerta para os empregadores e funcionários: o denominado quiet quitting - "demissão silenciosa" ou "desistência silenciosa".
Apesar da denominação, o movimento não significa a vontade do empregado em sair do emprego, mas sim, em demandar o mínimo de esforço possível para cumprir exatamente o que a sua função exige, sem entrega adicional, priorizando a vida pessoal e a saúde mental, mesmo que isso venha a comprometer a sua ascensão profissional. Seria a recusa do empregado à sobrecarga de trabalho, estabelecendo limites entre a sua vida pessoal e profissional.
A título exemplificativo, o empregado comparece ao trabalho, mas permanece dentro dos limites das suas atividades, não auxiliando em tarefas adicionais e cumprindo rigorosamente o horário previsto em contrato. Destaca-se que esse movimento, apesar de possuir características semelhantes, não se confunde com a desídia, que é um comportamento negligente do empregado, como por exemplo, atrasos injustificados, ou demora no cumprimento de prazos, estes sim, passíveis de aplicação de penalidade disciplinar.
Embora essa prática não seja necessariamente uma novidade, o movimento quiet quitting ganhou maior notoriedade após o fim do período de pandemia, em que muitas pessoas tiveram que deixar a sua rotina diária de home office e retomar as atividades presenciais.
Fato é que o regime de home office alterou o padrão de trabalho dos funcionários, permitindo por exemplo, uma maior convivência ao lado dos familiares, economia de tempo e dinheiro com deslocamento e possibilidade de realização de projetos pessoais até então deixados em segundo plano, por conta do tempo despendido no trabalho.
Com a retomada do trabalho presencial, muitas pessoas não conseguiram se readaptar a sua antiga rotina de longas jornadas e passaram a rever seus valores, priorizando os projetos pessoais e a saúde mental.
Um estudo publicado pela empresa Gallup1, mostrou que o índice de engajamento dos funcionários nos EUA retrocedeu durante o segundo trimestre de 2022, provocando um aumento de 18% no índice de desmotivação dos empregados.
Cumpre esclarecer que o empregador possui a prerrogativa de demitir o empregado caso este não atenda às expectativas da empresa, principalmente em um cenário gravemente atingido pela pandemia, com milhares de pessoas em busca de uma nova oportunidade no mercado de trabalho. Contudo, uma substituição reiterada de empregados não se mostra uma via vantajosa para as empresas, uma vez que existe o alto custo com demissões, novas contratações e treinamentos.
Em paralelo, com a adoção do quiet quitting, o empregado não terá, a longo prazo, qualquer tipo de evolução profissional, ficando estagnado em sua carreira, sentindo-se cada vez mais desmotivado, em um círculo vicioso.
Dessa forma, surge o desafio para os líderes e gestores de buscar novas práticas de trabalho para um maior engajamento dos seus funcionários e retenção de talentos, sem a adoção de metas excessivas e jornadas extenuantes, direcionando o foco para a saúde mental, mas, sem perda de produtividade.
Não há dúvida de que um ambiente de trabalho saudável gera aumento significativo no nível de interesse e felicidade dos empregados, o que se traduz em maior produtividade e lucratividade para as empresas. Por outro lado, os trabalhadores devem buscar alinhar as suas expectativas desde o início da contratação, para assim conseguirem melhores resultados, sem negligenciar a sua saúde mental e também o compromisso com o empregador.
São Paulo, 29 de novembro de 2022.
Thales Maia Almeida
1 https://www.gallup.com/workplace/398306/quiet-quitting-real.aspx